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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Caio Silveira defende a construção de redes para o desenvolvimento territorial

O desenvolvimento econômico de uma região está relacionado à implantação de redes de relacionamento entre os diversos atores presentes em determinado território, como explica o sociólogo Caio Silveira, coordenador da Expo Brasil 2010, encontro que vai reunir comunidades de diferentes municípios para discutir desenvolvimento local, inovação, meio ambiente, democracia e desigualdades. A edição desse ano será realizada entre os dias 1º e 3 de dezembro, no Rio de Janeiro.

Para Silveira, equilíbrio ambiental, cultura e economia solidária são elementos de um desenvolvimento sistêmico, tendo o território como fator de integração. “Quantas oportunidades perdemos por não saber o que acontece na região onde moramos?”, questiona. Confira na entrevista a seguir a visão do coordenador do evento sobre assuntos como sustentabilidade e as possibilidades de produção de riqueza a partir de cadeias produtivas com bases territoriais.

Nós da Comunicação – Um dos pontos focais da Expo Brasil 2010 é a abordagem do desenvolvimento territorial. Nesse contexto, qual o significado da expressão ‘territórios em rede’ e quais suas vantagens para os empreendedores?

Caio Silveira – A expressão significa a junção de duas ideias. A primeira é a rede construída dentro de um território, onde haja um diálogo entre os bairros, comunidades e cidades de uma região e está ligada às ‘antenas’ internas da cidade. Quantas oportunidades perdemos por não saber o que acontece na região onde moramos?

Já a segunda é a ampliação da primeira, só que pensada na relação entre territórios. E a mobilização desses locais pode atrair forças e apoiadores externos, como outras instâncias de governo etc. Para isso acontecer, é fundamental o protagonismo local, uma comunidade não pode ficar esperando acontecer. Em relação às vantagens, não adianta ter ‘programas de prateleira’, pré-estabelecidos. É importante dialogarmos com os diferentes territórios.

Nós da Comunicação – De que maneira as tecnologias podem ser utilizadas como ferramentas de mobilização no processo de desenvolvimento territorial? Você poderia citar algum exemplo?
Caio Silveira –
Um exemplo é o projeto Piraí Digital, do município de Piraí, no Rio de Janeiro, que inclusive já virou referência brasileira para outros estados. Não apenas por ser uma iniciativa precursora, mas por suas inovações importantes. A proposta foi criar uma infraestrutura pública de comunicação em rede, com internet banda larga para todo o município, tanto nas áreas rurais quanto urbanas e associar a isso um conjunto de ações, como universalizar as informações entre as diversas instâncias públicas.

Nós da Comunicação – Qual a importância da criação de espaços que possibilitem a produção e gestão do conhecimento em cadeias produtivas com bases territoriais?

Caio Silveira – A questão da produção e gestão do conhecimento é mais ampla do que as cadeias produtivas e economia, em geral. A idéia é que a gente possa ter um conhecimento maior sobre as realidades locais e que essas informações possam ser utilizadas pelas próprias comunidades. É um conhecimento que pode ser apropriado. Por isso, é mais amplo do que a economia, mas também faz parte do seu âmbito, já que o conhecimento é o principal fator de produção e o principal eixo de valor. Vivemos numa sociedade do conhecimento. A grande parte do valor de um tênis, por exemplo, não está na ‘matéria dura’, mas no design, na pesquisa, no marketing e em outros ativos imateriais. Na verdade, construímos as cadeias produtivas em cima da troca de conhecimento. Um exemplo é o projeto Justa Trama, que engloba 700 associados produtores de vestuário, atuantes em seis estados brasileiros: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rondônia, Ceará e Minas Gerais. Eles estão articulados a partir de informação e conhecimento.

Nós da Comunicação – As entidades do terceiro setor estão mais mobilizadas e articuladas nesse sentido? E as instâncias políticas, a situação melhorou ou piorou nos últimos anos?

Caio Silveira – É importante pensarmos as duas coisas juntas. No desenvolvimento territorial integral é importante a articulação dos setores. Sem comunicação os resultados serão fragmentados. Acredito que ainda predominem ações setoriais, pois falta desenvolver uma visão de ação territorial integrada, que supõe parcerias. O espaço público se refere a tudo, não apenas ao espaço governamental, mas envolve outros atores, como empresas, terceiro setor etc.

Se compararmos com quinze anos atrás, existe uma movimentação muito maior. Hoje, o conceito está mais impregnado, mas afirmar que melhorou é subjetivo. Podemos dizer que a presença da abordagem territorial nas políticas públicas avançou, mas ainda é muito menor do que poderia ser. Entretanto, é um ambiente muito mais favorável do que o do final da década de 90.

Nós da Comunicação – Como a cultura e a sustentabilidade ambiental são elementos indutores do desenvolvimento de uma economia solidária?

Caio Silveira – Tanto a cultura quanto a sustentabilidade e a economia solidária são elementos de um desenvolvimento sistêmico, tendo o território como fator de integração. O meio ambiente, por exemplo, não pode ser visto como um freio-motor, mas como um ativo gerador de novas formas de trabalho e produção de riqueza, a partir da idéia de sustentabilidade ambiental. Produção de biocombustível, energia eólica e solar são todas oportunidades de trabalho.

Em relação à cultura, é válido citar como exemplo os Pontos de Cultura, projeto do Ministério da Cultura que permitiu desenvolver iniciativas locais em todo território nacional. Isso tudo, que se chama economia criativa, envolve as artes, moda etc. Outro exemplo interessante é o projeto Favela Fashion Rio, que será apresentado na Expo Brasil desse ano. A idéia é mostrar como empreendimentos e produtores populares dessa cadeia produtiva localizados em comunidades do Rio de Janeiro estão criando, produzindo e sobrevivendo da moda.

Nós da Comunicação – Na prática, como pequenos e médios empreendedores podem se beneficiar com a Expo Brasil?

Caio Silveira – Eu diria que micro e pequenos empreendedores podem ganhar mais visibilidade com o evento. Podemos pegar como exemplo, o caso do Favela Fashion Rio. A Expo Brasil não é uma feira de negócios, mas um evento de contatos e oportunidade de visibilidade. Temos a proposta de articular relacionamentos, visando beneficiar e favorecer seus participantes, tirando-os do isolamento. A feira procura ser uma contribuição na construção dessas redes e trocas de informações. Que ela seja uma escola viva, onde todos estejam aprendendo

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