De acordo com Smeraldi, “a extração da bromelina amplia o aproveitamento do curauá e pode viabilizar a cadeia produtiva, gerando o ganho de escala necessário ao aproveitamento industrial da fibra”. Ele conta que a bromelina é uma enzima de ampla aplicação na indústria farmacêutica, alimentícia e de sapatos. Pode ser extraída do abacaxi, mas aí gera uma competição com o mercado do fruto, de polpa e de sucos.
“Já a fruta do curauá, por não ser consumida, apresenta um potencial produtivo específico muito interessante, visto que o Brasil importa bromelina e o valor de mercado é alto, mais de R$ 3 mil o quilo”, acrescenta o autor do Novo Manual de Negócios Sustentáveis, lançado em 2011.
“Economicamente falando, em meu ponto de vista, é mais rentável utilizar o caldo produzido no processamento das fibras do curauá, pois já diminuiria a etapa de extração da enzima do tecido vegetal”, pondera o biólogo e doutor em Engenharia Química, Edgar Silveira Campos, do
Laboratório de Processos de Separação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo explica Silveira Campos, as pesquisas para a obtenção da bromelina costumam ser realizadas a partir dos resíduos das indústrias que processam o abacaxi, porque este tem valor comercial. “Nesta linha de pensamento, a utilização dos frutos do curauá é viável, bastando apenas realizar testes referentes às características de suas enzimas”, diz. Porém, se há “intenção de produzir bromelina a partir de todo o curauá, haveria a necessidade de isolamento e comparação das enzimas produzidas nos diversos tecidos vegetais da planta”.
O estudo é importante, pois existem diferenças entre os vários tipos de bromelina. No caso do abacaxi, por exemplo, a enzima do fruto, mais usada na indústria alimentícia, difere da enzima do talo, mais utilizada pela indústria farmacêutica. Esta bromelina é muito bem documentada por seu efeito anti-inflamatório e eficácia comprovada na cura de angina, indigestão e problemas respiratórios.
No laboratório da Unicamp, estão em curso estudos com a bromelina extraída dos resíduos do curauá roxo e branco, com o objetivo de fazer a caracterização das enzimas; avaliar diferentes sistemas de extração, em duas fases aquosas e precipitação fracionada; testar a estabilidade da enzima bruta e parcialmente purificada, além de analisar a viabilidade econômica da purificação.
Os resultados ainda são preliminares, mas as perspectivas são boas. Pelo menos uma indústria alimentícia interessada já fez contato com a equipe de pesquisa.
Do ponto de vista dos produtores amazônicos, os sistemas de extração da bromelina em duas fases aquosas, testados na Unicamp, merecem atenção. A tecnologia não é complicada, não exige instalações de grande porte e está ao alcance de investidores locais. “Esses sistemas de extração são bastante utilizados na área médica e nas indústrias químicas”, complementa Siqueira Campos. “Também são adequados para as indústrias farmacêuticas ou alimentícias, possuem baixo custo de produção e de investimento em equipamentos, além de serem facilmente escalonáveis. E seus reagentes são bastante simples de se obter”.
Com os níveis de purificação alcançados em laboratório, é possível utilizar a bromelina em gel, loções e cremes anti-inflamatórios. “Mais um detalhe interessante é que o aproveitamento da bromelina não afeta as outras utilizações da planta”, observa Osmar Lameira. “Podemos acrescentar que a resina descartada serve como ração para bovinos, com cerca de 7% de proteínas, e como celulose”.
Em resumo, o curauá parece se revelar como uma “bromélia dos ovos de ouro”. Alô produtores da Amazônia: o que estão esperando para começar a plantar?
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